As estrelas-do-mar são o grupo mais conhecido dos equinodermos. Existem cerca de 2.000 espécies - incluindo esta que você vê acima, descoberta recentemente na costa da Argentina — Foto: Divulgação/CONICET,Schmidt Ocean Institute

Em uma expedição pelas águas do cânion submarino Mar del Plata, na costa da Argentina, cientistas capturaram imagens de animais nunca antes observadas na natureza. Entre as mais de 40 espécies inéditas, uma chamou a atenção – tudo graças ao seu formato corporal peculiar. A estrela-do-mar fo gênero Hippasteria que você vê na imagem deste post foi apelidada de “estrela-do-mar bunduda” ou “estrella culona” (em espanhol) pelas redes sociais. O motivo é auto explicativo: o animal rechonchudo tem suas “partes traseiras” um tanto quanto pronunciadas, como um bumbum humano.

A realidade é que as estrelas-do-mar não possuem uma parte traseira como nós humanos, animais de simetria bilateral. Esses equinodermos são divididos radialmente por vários planos que passam por um ponto central. A boca deles fica localizada na superfície inferior (face oral) do corpo, aquela que está pressionada contra o fundo do mar. Já o ânus fica no centro da superfície superior (face aboral).

A embarcação Falkor (too) está sendo utilizada pelos cientistas durante as expedições submarinas na costa da Argentina — Foto: Divulgação/Schmidt Ocean Institute
A embarcação Falkor (too) está sendo utilizada pelos cientistas durante as expedições submarinas na costa da Argentina — Foto: Divulgação/Schmidt Ocean Institute

Estrela popozuda

A respeito da estrela bunduda, os pesquisadores da expedição dizem que a anatomia do animal pode ser explicada por ela estar bem alimentada – o que deixaria o seu disco e braços mais rechonchudos – ou por um simples efeito da gravidade. A estrela-do-mar foi encontrada sob uma superfície vertical, o que poderia ter feito seu disco central ficar pendurado, criando a ilusão de nádegas.

“Podem ser vistos os vincos entre os braços da estrela. Isso foi o que chamou a atenção. Na outra face, voltada para baixo, a estrela possui uma boca e dois estômagos internos. (…) Pode ser que a estrela observada esteja um pouco gordinha por causa da alimentação ou pela presença de gametas. Mas isso não sabemos, seria necessário analisá-la de perto”, argumenta Pamela Rivadeneira, bióloga da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais da Universidade de Buenos Aires, em entrevista ao site Infobae.

Mergulho em águas profundas

Lideradas pelo Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (CONICET) e Schmidt Ocean Institute, as expedições registram imagens e coletam amostras de diferentes animais das águas profundas argentinas.

Os cientistas responsáveis pela imagem inusitada da estrela utilizam um veículo operado remotamente (ROV) para captar imagens em alta definição das profundezas do cânion. Enquanto eles estão a bordo do navio de pesquisa, as imagens são transmitidas ao vivo no YouTube. A ideia é divulgar sobre espécies marinhas que são raramente observadas.

Os cânions submarinos estão associados aos chamados hotspots, ambientes com grande biodiversidade que correm riscos de degradação ambiental — Foto: Divulgação/CONICET,Schmidt Ocean Institute

Os cânions submarinos estão associados aos chamados hotspots, ambientes com grande biodiversidade que correm riscos de degradação ambiental — Foto: Divulgação/CONICET,Schmidt Ocean Institute

Já foram documentadas pelo menos 25 espécies de peixes (alguns translúcidos), esponjas carnívoras, raias coloridas, crustáceos das profundezas e corais nunca antes catalogados na região do Atlântico Sul. Além do projeto realizado no Mar del Plata, pesquisadores envolvidos nessas expedições também realizam estudos com mais de 100 espécies de estrelas-do-mar espalhadas por regiões que vão desde o Rio da Prata até o Banco Namuncurá.

As transmissões ao vivo das expedições podem ser acompanhadas no canal oficial do Schmidt Ocean Institute no YouTube até dia 10 de agosto.

(Por Fernanda Zibordi)