
Após oito anos de escavação minuciosa, arqueólogos da Universidade de Alicante concluíram a escavação de um dos mais impressionantes complexos termais romanos já descobertos na Península Ibérica. As Termas Orientais de La Alcudia, próximas a Elche, no sudeste da Espanha, revelam a prosperidade e a sofisticação da antiga colônia romana de Iulia Ilici Augusta no século II d.C.
Com uma área de 1.330 metros quadrados, o complexo é um dos maiores da Hispânia romana, oferecendo uma visão única sobre o planejamento urbano, a engenharia e a vida social da época. Esse sítio preserva a cidade de Ilici, estrategicamente situada entre Carthago Nova (atual Cartagena) e Valentia (Valência).
A colônia foi fundada em duas etapas: a primeira, decretada por Júlio César antes de seu assassinato em 44 a.C., e a segunda durante o reinado do Imperador Augusto (27 a.C.–14 d.C.), que distribuiu terras para soldados veteranos das Guerras Cantábricas. Essa dupla fundação ilustra a abordagem romana sistemática à colonização e à integração de veteranos militares na sociedade civil.
“Descobrimos um dos edifícios públicos mais importantes da cidade: as Termas Orientais. Ricamente decoradas com pisos de mosaico e construídas em grande escala, elas demonstram o esplendor e a prosperidade de Ilici no século II d.C”, destaca professor Jaime Molina Vidal, líder do projeto Virtual-ASTERO Heritage, em entrevista ao Ancient Origins.
Exuberância da engenharia romana
O layout arquitetônico das Termas Orientais segue a típica progressão romana de experiências de banho, projetadas para promover tanto a limpeza física quanto a interação social. Além dos frigidaria e caldaria, o complexo inclui tepidarium (salas aquecidas), laconicum (sauna) e apodyterium (vestiários). Essa disposição abrangente reflete a compreensão romana do banho como uma experiência holística, combinando higiene, relaxamento, exercício e interação social. A escala e sofisticação dessas instalações ressaltam a prosperidade econômica de Ilici durante o auge do Império Romano.
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A maior atração é a natatio, uma enorme piscina preservada, evidenciando a habilidade dos romanos em engenharia hidráulica e sua ênfase na vida social e no lazer. Além do aspecto funcional, o local preserva tesouros artísticos raros. A equipe encontrou dois mosaicos: um reproduz painéis de mármore, criando um efeito luxuoso mesmo sem o material caro, e outro exibe intricados motivos florais, como folhas de acanto e espirais, comuns na arte naturalista do século II.
Declínio e legado arqueológico
Durante os séculos III e IV d.C., as termas sofreram deterioração e abandono graduais, provavelmente refletindo dificuldades socioeconômicas mais amplas e o declínio demográfico que afetaram muitos assentamentos romanos. Apesar dos pesquisadores identificarem tentativas de restauração nos últimos séculos do Império, mas com redução de tamanho e funcionalidade do complexo original. As termas foram definitivamente abandonadas entre os séculos V e VI d.C., marcando o fim de uma era no desenvolvimento urbano da região.
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Além do complexo termal, a equipe arqueológica escavou um trecho significativo de 55 metros de rua romana, com sistemas de drenagem, entradas de edifícios e superfícies pavimentadas. Essa descoberta permite reconstruir parte da rede viária de Ilici e compreender sua evolução desde o período ibérico até a era visigótica. Sob as camadas romanas, arqueólogos identificaram um bairro ibérico do século III a.C., evidenciando a complexidade e a sofisticação do assentamento pré-romano.
Hoje, técnicas de conservação permitem acesso público ao sítio, que será transformado em espaço museológico aberto. “Estamos entrando numa nova fase, focada na publicação científica e na criação de um museu ao ar livre para que o público possa descobrir esse patrimônio único”, conclui Molina.
(Por Carina Gonçalves)