
Em meio à escalada de tensão entre Estados Unidos e Brasil, o governo brasileiro se prepara para possíveis novas sanções do presidente americano, Donald Trump. Com as ameaças, especulações sobre a exclusão hipotética dos bancos brasileiros do Swift ganharam repercussão nos últimos meses. Entretanto, especialistas ouvidos pelo R7 afirmam que os EUA não têm poder direto e unilateral para retirar um país do sistema.
O Swift é uma sociedade que possibilita a troca de informações entre bancos para transações financeiras internacionais. Supervisionado pelos bancos centrais do G10, o sistema reúne 2.400 instituições financeiras e tem por usuários a cumprir responsabilidades de conformidade com regulamentos nacionais e internacionais”.
Por outro lado, o economista Hugo Garbe avalia que os americanos possuem capacidade de influência relevante sobre a governança prática do sistema, principalmente devido à centralidade do dólar no cenário financeiro global e ao papel dominante de bancos correspondentes dos EUA na liquidação internacional.
“A experiência histórica comprova essa capacidade: pressões diplomáticas de Washington resultaram na exclusão de bancos iranianos [2012 e 2018], nortecoreanos e, mais recentemente, de instituições russas após a invasão da Ucrânia”, comentou Garbe
Exclusão improvável
Assim como Mergulhão, Garbe considera improvável a exclusão do Brasil. Ele explica que o país não é alvo de sanções do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) e mantém interdependência econômica com nações que tenderiam a se opor a tal medida, como China e União Europeia.
“Assim, embora tecnicamente viável, a probabilidade de aplicação dessa sanção no curto prazo é relativamente baixa e dependeria de deterioração diplomática severa”, afirma Garbe.
Mergulhão acrescenta que os americanos poderiam impor sanções financeiras tão restritivas a ponto de, na prática, obrigarem bancos e até o próprio Swift a suspender transações com o Brasil, como ocorreu em outros contextos
internacionais.
“Hoje, esse cenário é improvável, pois representaria um salto muito além da disputa comercial, mas, caso ocorresse, o impacto seria grave: interrupção de pagamentos e recebimentos internacionais, desorganização das cadeias de
comércio exterior e forte pressão de alta sobre o dólar”, conclui.
E se o Brasil fosse excluído do Swift
Hipoteticamente, caso o Brasil fosse excluído do sistema, uma série de consequências estruturais e macroeconômicas poderia abalar a economia nacional. Entre elas:
💰 Empresas exportadoras e importadoras teriam dificuldade imediata para receber ou efetuar pagamentos, provocando disrupções nas cadeias de suprimentos e aumento de custos de produção;
💰 Elevação da percepção de risco no mercado financeiro, induzindo fuga de capitais;
💰 Aceleração da inflação.
Garbe avalia que as opções de mitigação do Brasil teriam “eficácia parcial”. Entre as alternativas, ele cita a ampliação de acordos bilaterais de compensação em moedas locais com parceiros estratégicos, a adesão a sistemas alternativos como o CIPS (China International Payment System) e a aceleração de iniciativas do Banco Central voltadas à criação de infraestrutura para pagamentos instantâneos internacionais baseada no Pix.
“Todavia, nenhuma dessas alternativas reproduz integralmente a capilaridade, a interoperabilidade e o efeito de rede do Swift, de modo que a fricção financeira e o custo de transação permaneceriam elevados no horizonte de curto e médio prazo”, observa.
Governo e Swift
Em meio às especulações, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Carnevalli Durigan, informou ter se reunido com o representante do Swift, Hayden Allan, que negou possíveis sanções aos bancos brasileiros.
“Tive excelente conversa com Hayden Allan, da Swift, que operacionaliza o maior sistema de integração bancária global. Hayden esclareceu que o Swift, sediado na Bélgica, segue o marco legal europeu e não está sujeito a sanções
arbitrárias de países específicos”, declarou Durigan nas redes sociais.
Segundo ele, Allan também destacou que o sistema processa transações em múltiplas moedas e vem ampliando a participação de países emergentes em seu conselho de administração.
“Como nação comprometida com o multilateralismo e a integração global, foi gratificante confirmar que somos um dos maiores usuários do Swift mundialmente”, concluiu o secretário.
(Fonte: R7)