A cobra foi levada para estudo na Universidade das Índias Ocidentais, um sistema universitário formado por 17 países de língua inglesa e territórios do Caribe — Foto: Reprodução/Connor Blades

A menor cobra do mundo passou quase duas décadas despercebida dos olhares dos cientistas. Não foi à toa: mais parecida com uma minhoca, a cobra de Barbados (Tetracheilostoma carlae), com seus 9 a 10 centímetros de comprimento na fase adulta, de fato não é um dos animais mais fáceis de se encontrar na natureza. E não é só pelo tamanho. A cobra de Barbados é cega e tem o costume de viver enterrada, alimentando-se de cupins e formigas. Por isso, seu avistamento mais recente datava de 20 anos atrás.

Porém, em março deste ano, um projeto de conservação redescobriu o minúsculo réptil debaixo de uma pedra em Barbados, ilha do Caribe, durante uma missão de levantamento ecológico. A notícia veio a público esta semana.

Endêmica da ilha de Barbados, a cobra é tão pequena que praticamente cabe em cima de uma moeda (como você verá na galeria abaixo). Ela estava incluída na lista de 4.800 espécies perdidas de plantas, animais e fungos feita pelo programa Search for Lost Species da Re:wild, iniciativa de proteção e conservação ambiental que atua no Caribe.

Os esforços de procura do animal já aconteciam há mais de um ano – inclusive por organizações de governo local. Foi quando Connor Blades, consultor de projetos do Ministério do Meio Ambiente e Embelezamento Nacional de Barbados, trouxe a espécie de volta ao radar, encontrando um único indivíduo debaixo de uma pedra.

Pelo fato de a cobra ser bem pequena e se parecer muito com outra espécie (cobra cega brahminy), ela só foi realmente identificada como tal após análises feitas em microscópio. Veja as fotos da espécie sumida:

Fotos da menor cobra do mundo redescoberta após 20 anos

Imagem tirada em 2006 da cobra de Barbados por Blair Hedges, pesquisador que primeiro descreveu a espécie pouco observada — Foto: Blair Hedges/Pennsylvania State University

A cobra foi levada para estudo na Universidade das Índias Ocidentais, um sistema universitário formado por 17 países de língua inglesa e territórios do Caribe — Foto: Reprodução/Connor Blades
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Imagem tirada em 2006 da cobra de Barbados por Blair Hedges, pesquisador que primeiro descreveu a espécie pouco observada — Foto: Blair Hedges/Pennsylvania State University
Réptil que cabe em cima de uma moeda tem hábitos discretos e estava em lista de “espécies perdidas”

Por que demorou tanto?

Como dissemos acima, o desafio de encontrar o bicho não tem a ver apenas com seu tamanho. Acostumadas a viver debaixo da terra, elas costumam ficar dentro dos ninhos de cupins, liberando secreções que acabam enganando os insetos fazendo com que eles não as ataquem.

Segundo Blades disse em entrevista ao Washington Post, é por isso que é possível fazer um levantamento durante horas e, mesmo que as cobras estejam lá, talvez nenhuma seja vista. O caso mostra que só porque uma espécie não consegue ser encontrada, não necessariamente indica que ela está extinta na natureza.

“Por serem tão pequenas, é muito difícil estudá-las sem causar danos. Então, há muito que não sabemos sobre suas preferências de habitat ou sua demografia, o que poderia ajudar em levantamentos ou planejamentos de conservação”, disse Blades, desta vez ao site IFLScience.

Símbolo de conservação

Várias espécies de cobras endêmicas da ilha de Barbados já foram declaradas como extintas, mas os cientistas esperam que a redescoberta da menor espécie do mundo destaque o valor da conservação de seus habitats.

“Em Barbados e em grande parte do Caribe, há um medo generalizado de cobras e, infelizmente, a nossa endêmica Barbados racer (Erythrolamprus perfuscus) já foi declarada extinta a algum tempo”, relata Justin Springer, integrante da Re:wild no Caribe. Para o pesquisador, a redescoberta também mostra que essas cobras muito pequenas, delicadas e inofensivas são importantes e também precisam ser protegidas.

(Por Fernanda Zibordi)