
Um estudo publicado na quarta-feira (10) no periódico científico Frontiers in Earth Science revela detalhes sobre a análise de ovos de dinossauro cristalizados achados no sítio arqueológico Qinglongshan, na Bacia de Yunyang, na China. De maneira inédita, os fósseis foram datados por meio de carbonato de urânio-chumbo (U-Pb).Na época em que os ovos foram preservados, no período Cretáceo, a Terra passou por uma atividade vulcânica significativa. A liberação de gases ocasionou mudanças climáticas e químicas, levando à perda de oxigênio no oceano e à extinção em massa dos animais. No entanto, os fósseis fornecem informações importantes sobre o clima de diferentes regiões naquela época.
“Mostramos que esses ovos de dinossauros foram depositados há aproximadamente 85 milhões de anos, no período Cretáceo Superior”, disse o pesquisador do Instituto de Geociências de Hubei, Bi Zhao, em comunicado. “Fornecemos as primeiras restrições cronológicas robustas para esses fósseis, resolvendo incertezas de longa data sobr sua idade.”
A Qinglongshan é a primeira reserva nacional chinesa que contém fósseis de ovos de dinossauros — mais de 3.000 ovos fossilizados estão espalhados em três sítios arqueológicos. A maioria estão escondidos em rochas de brechas, siltitos e arenitos. Os ovos encontrados estavam em perfeitas condições, contendo apenas algumas deformidades.
A equipe acredita que a maioria dos ovos pertença à espécie Placoolithus tumiaolingensis, da família Dendroolithidae — uma de suas principais características é a porosidade nas cascas dos ovos.
Como foi feita a datação por urânio-chumbo?
Para fazer a datação, os pesquisadores coletaram a amostra fóssil de um dos ovos, repleto de calcita, proveniente de um conjunto de 28 ovos incrustados em siltito contendo brecha (rocha de aspecto fragmentário).
“Disparamos um microlaser em amostras de casca de ovo, vaporizando minerais de carbonato em aerossol. Isso é analisado por um espectrômetro de massa para contar átomos de urânio e chumbo. Como o urânio se decompõe em chumbo a uma taxa fixa, conseguimos calcular a idade medindo o chumbo acumulado — é como um relógio atômico para fósseis”, explicou Zhao.
Dessa forma, a equipe descobriu que os ovos foram depositados há aproximadamente 85 milhões de anos (com uma margem de erro de 1,7 milhão de anos antes ou depois). A datação indica que os fósseis foram desovados no período do Cretáceo Superior, que durou cerca de 100 a 66 milhões de anos. Esta seria a primeira datação confiável no sítio arqueológico chinês.
Veja imagens dos ovos:
Cristais são revelados dentro de ovos de dinossauro de 85 milhões de anos na China

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Normalmente, os cientistas utilizam métodos indiretos para datação de fósseis, através da análise dos vestígios de camadas de cinzas, minerais ou rochas vulcânicas ao redor dos ovos. No entanto, este modo não consegue fornecer informações exatas de datação, pois as camadas rochosas podem ter sido alteradas durante os processos geológicos ou podem ter se formado depois da deposição dos ovos.
A datação por meio de urânio-chumbo não depende de meios indiretos para fornecer informações mais exatas, necessitando apenas do próprio ovo. “Isso revoluciona nossa capacidade de estabelecer cronologias globais de ovos de dinossauros”, ressalta Zhao.
Resfriamento no Cretáceo
Na era Turoniana (93,9 a 89,8 milhões de anos atrás), milhões de anos antes da deposição dos ovos encontrados, havia começado um resfriamento global. A queda de temperatura pode ter contribuído para a diminuição da diversidade de dinossauros, afetando a quantidade de ovos colocados por cada espécie pré-histórica no sítio arqueológico chinês.
“As estruturas de poros especializados dos dendrobatídeos podem representar adaptações evolutivas a essa mudança climática, já que novos tipos de ovos surgiram no mundo todo durante o resfriamento”, concluiu Zhao.
Segundo o pesquisador, o dinossauro que depositou os ovos pode representar um beco sem saída evolutivo, dado que a população de dinossauros que botavam ovos não conseguiu se adaptar com sucesso a climas mais frios.
Através das análises, os pesquisadores descobriram também que todos os ovos tinham idades parecidas e que os vestígios de rochas ao seu redor também tinham datações semelhantes. Agora, a equipe pretende incluir amostras de ovos encontrados em diferentes camadas rochosas para construir uma linha do tempo da região.
Além disso, os pesquisadores querem rastrear as migrações feitas por dinossauros através da análise dos ovos de Dendroolithidae. “Nossa conquista tem implicações significativas para a pesquisa sobre a evolução e extinção dos dinossauros, bem como para as mudanças ambientais na Terra durante o Cretáceo Superior”, afirma Zhao. “Tais descobertas podem transformar fósseis em narrativas convincentes sobre a história da Terra.”
(Por Tainá Rodrigues)

