Os anolis-marrons possuem a habilidade de mudar de cor em resposta ao ambiente, indo do marrom escuro ao cinza e ao preto — Foto: gailhampshire/Wikimedia Commons

Metais pesados são perigosas substâncias que, por não possuírem uma função no nosso organismo – como o ferro ou o zinco possuem –, podem se acumular em tecidos e causar desde danos celulares até doenças graves. Porém, eles não parecem ser um problema para os anolis-marrons (Anolis sagrei).

Segundo pesquisadores da Universidade de Tulane, nos EUA, os lagartos, pertencentes a uma espécie invasora da cidade americana de Nova Orleans, apresentam os maiores níveis de chumbo no sangue já registrados em qualquer vertebrado. Não só isso: os animais não aparentam ter danos significativos em seus organismos devido à contaminação.

De onde vem o chumbo dos lagartos?

O chumbo é um metal tóxico e cumulativo, responsável por graves problemas à saúde se for encontrado em altas concentrações no sangue. Cerca de 5 microgramas por decilitro (µg/dL) já é um nível elevado para um humano adulto, de acordo com a UCSF Health. Em crianças, grupo que sofre das consequências mais graves da contaminação, o número é até menor (3,5 µg/dL).

A substância é uma preocupação ambiental em áreas urbanas, especialmente em Nova Orleans, cidade que, segundo Alex Gunderson diz em entrevista ao site Popular Science, “tem uma longa história com negócios como tinta à base de chumbo e gasolina com chumbo” sendo que o metal tóxico dessas fontes acaba se acumulando no solo.

“Os lagartos vivem perto do chão, então respiram poeira com chumbo e comem insetos que têm chumbo sobre e dentro deles”, comenta o autor da pesquisa, publicada na revista científica Environmental Research.

O chumbo é um material muito útil na construção de baterias automotivas, mas é utilizado pelo homem desde da antiguidade na confecção de taças, assim como na fabricação de tubulações e até cosméticos — Foto: Alchemist-hp/Wikimedia Commons
O chumbo é um material muito útil na construção de baterias automotivas, mas é utilizado pelo homem desde da antiguidade na confecção de taças, assim como na fabricação de tubulações e até cosméticos — Foto: Alchemist-hp/Wikimedia Commons

Altas concentrações de metais pesados

Desde sua chegada do Caribe, por volta da década de 1990, o anolis-marrom cresceu em população nas últimas décadas, e hoje é mais comum que o anolis-verde (Anolis carolinensis), espécie nativa.

Ao coletar lagartos da espécie invasora e analisar suas amostras biológicas, a equipe da coautora do estudo, Annelise Blanchette, descobriu que eles apresentavam as maiores concentrações médias (955 μg/dL) e individuais (3.192 μg/dL) de chumbo no sangue já vistas em vertebrados.

“O que é surpreendente é que esses lagartos não estão apenas sobrevivendo, eles estão prosperando com uma carga de chumbo que seria catastrófica para a maioria dos outros animais”, diz Gunderson.

Os lagartos do gênero Anolis se destacam por usa “barba colorida”, utilizada como mecanismo de comunicação entre membros do mesmo grupo — Foto: Lauren McLaurin/Wikimedia Commons
Os lagartos do gênero Anolis se destacam por usa “barba colorida”, utilizada como mecanismo de comunicação entre membros do mesmo grupo — Foto: Lauren McLaurin/Wikimedia Commons

Riscos de contaminação

Exames dos tecidos cerebrais e hepáticos dos anolis-marrons também mostraram que vários genes associados à regulação de íons metálicos e ao transporte de oxigênio estavam alterados. Isso poderia explicar a super tolerância ao chumbo por esses animais.

Entretanto, os pesquisadores destacam que, mais do que novas possibilidades de tratamentos genéticos contra o envenenamento de chumbo em humanos, o estudo é importante para ressaltar a necessidade de investigação dos efeitos ecológicos do chumbo em ambientes e comunidades em risco de contaminação.

(Fernanda Zibordi)