Peixe do gênero Tharsis fossilizado com belemnite presa na boca — Foto: Ebert & Kölbl-Ebert, Sci. Rep. , 2025

Um mistério pré-histórico acaba de ser desvendado. Paleontólogos descobriram que peixes do período Jurássico frequentemente morriam de uma maneira tão incomum quanto trágica: engasgados com criaturas parecidas com lulas alojadas em suas gargantas. A revelação vem de uma pesquisa publicada na revista Scientific Reports, dia 08 de maio, que analisou fósseis de cerca de 152 milhões de anos encontrados no calcário de Solnhofen, na Alemanha.

Segundo os paleontólogos Martin Ebert e Martina Kölbl-Ebert, da Universidade Ludwig Maximilian de Munique, os fósseis analisados exibem belemnites presos na boca e no aparelho branquial dos peixes. Em todos os casos, o rostro rígido do cefalópode atravessa as guelras, enquanto a concha interna, chamada fragmocone, permanece alojada na abertura da boca. Em outras palavras: os peixes engoliram algo grande demais e não conseguiram cuspir de volta.

Os peixes do gênero Tharsis eram microcarnívoros, alimentando-se principalmente por sucção de pequenos organismos como larvas e zooplâncton. Por outro lado, os belemnites, parecidos com lulas com um corpo alongado e vários braços, viviam no mar aberto e raramente deixavam fósseis tão bem preservados. No entanto, os que foram encontrados nas bacias de Plattenkalk apresentavam uma característica incomum: estavam cobertos por bivalves, o que sugere que os cefalópodes já estavam mortos, flutuando à deriva na água, onde serviam de abrigo e alimento para outros organismos.

Fósseis revelam múltiplos exemplares de Tharsis com belemnites impactadas em suas cavidades bucais — Foto: Ebert & Kölbl-Ebert, Sci. Rep. , 2025
Fósseis revelam múltiplos exemplares de Tharsis com belemnites impactadas em suas cavidades bucais — Foto: Ebert & Kölbl-Ebert, Sci. Rep. , 2025

A hipótese levantada pelos pesquisadores é que os peixes, atraídos pelos restos em decomposição ou pela presença de biofilmes como algas e bactérias, tentavam sugar o que estivesse grudado nos corpos flutuantes. No entanto, ao acidentalmente engolirem o rostro aerodinâmico dos belemnites, não conseguiam mais expulsar o objeto que acabava travado nas guelras. A consequência era a morte por asfixia.

“Aparentemente, esses peixes tinham o hábito de sugar restos orgânicos ou crescimento microbiano de objetos à deriva, mas quando sugavam por engano uma belemnite, o objeto se tornava irrecuperável”, explicam os autores no artigo.

A descoberta, além de curiosa, lança luz sobre hábitos alimentares e perigos enfrentados por espécies marinhas extintas. E mostra que, no fundo do mar jurássico, até um erro de cálculo ao tentar fazer um lanchinho podia ser fatal.

(Por Carina Gonçalves)