
Cientistas descobriram que um réptil marinho pré-histórico caçava em águas profundas de modo furtivo graças a adaptações em suas nadadeiras, que o ajudavam a se aproximar silenciosamente de suas presas. Estruturas encontradas em uma nadadeira de Temnodontossouro de cerca de 183 milhões de anos revelaram que ela funcionava como um abafador de som durante o nado do animal, dificultando a identificação por parte das presas.
O réptil em questão, apelidado “dragão marinho”, é um ictiossauro gigante: um predador com mais de dez metros de comprimento que evoluiu dos répteis terrestres – caminho parecido com os dos mamíferos marinhos modernos, como baleias e golfinhos.
Suas nadadeiras altamente especializadas suprimiam o som de seus próprios movimentos, o que, segundo os autores do artigo publicado na revista científica Nature, é uma adaptação evolutiva nunca vista antes em uma criatura aquática.
+ 1 em bônus de furtividade
Estudar seres pré-históricos é difícil, já que os fósseis remanescentes são raros, e quase sempre estão incompletos. A nadadeira do ictiossauro foi um achado quase acidental. Encontrada por um colecionador particular num depósito de obras rodoviárias na Alemanha, ela foi depois levada para centros de pesquisa europeus para ser analisada.
Ao se deparar com a peça, o paleontólogo da Universidade de Lund e coautor do estudo, Johan Lindgren, percebeu o quão incomum ela era. Com um metro de comprimento, a nadadeira não possuía o esqueleto estendendo-se até a ponta, apresentando apenas cartilagem, o que a tornava bem mais flexível.
“O formato da nadadeira semelhante a uma asa, além da ausência de ossos na extremidade distal e a borda posterior nitidamente serrilhada, indicam que esse grande animal desenvolveu mecanismos para minimizar a produção de som durante o nado.
Assim, esse ictiossauro deve ter se movido quase silenciosamente pela água, de forma semelhante às corujas modernas – cujas penas das asas também formam um padrão em zigue-zague – que voam silenciosamente ao caçar à noite”, explica o cientista, em comunicado.
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Com simulações computacionais sobre como as nadadeiras se movimentariam na água, a equipe do estudo verificou um efeito de manipulação do fluxo d’água ao redor do corpo, o que diminuiria o ruído do nado, assim criando uma vantagem furtiva única para o animal.
Predador das profundezas
Outro detalhe marcante é que o Temnodontossouro tinha os maiores olhos já registrados em qualquer vertebrado conhecido, vivo ou extinto. “Estamos falando de olhos do tamanho de pratos”, como afirma Lindgren em entrevista ao Science News.
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Essa característica já colaborava com a teoria de que o réptil era adaptado para caçar em ambientes com pouca luz – como corujas e lulas gigantes. Para os pesquisadores, as nadadeiras especializadas poderiam ser mais um tipo de adaptação furtiva de viver em águas profundas.
“O fóssil fornece novas informações sobre os tecidos moles da nadadeira desse imenso leviatã, apresenta estruturas nunca vistas em um animal, e revela uma estratégia de caça única (oferecendo, portanto, evidências de seu comportamento), tudo isso combinado com o fato de que suas características redutoras de ruído podem até nos ajudar a reduzir a poluição sonora causada pelo ser humano”, revela Dean Lomax, paleontólogo da Universidade de Manchester, em comunicado.
Especialista em ictiossauros, Lomax diz que isto “representa uma das maiores descobertas fósseis já feitas” e pode revolucionar a forma como cientistas investigam e reconstroem outros animais pré-históricos.
(Por Fernanda Zibordi)
