Uma parte do osso de dinossauro recuperado do núcleo científico — perfurado a 233 metros abaixo da superfície do estacionamento do Museu, no Parque da Cidade, em Denver — Foto: Rick Wicker/Museu de Natureza e Ciência de Denver

Uma descoberta extraordinária sacudiu o Museu de Natureza e Ciência de Denver, nos Estados Unidos. Durante os testes de um novo sistema de energia geotérmica, em janeiro de 2025, funcionários perfuraram uma amostra de rocha sob o estacionamento do Museu que guardava parte de uma vértebra de um dinossauro herbívoro, que viveu há 67,5 milhões de anos.

A amostra foi retirada de 233 metros de profundidade, em uma camada de rocha datada do Período Cretáceo Superior. Naquela época, Dever acredita-se que era um ambiente tropical úmido, repleto de palmeiras, trepadeiras e vastos pântanos. Detalhes a respeito do achado foram publicados em um artigo no dia 1° de junho na revista científica Rocky Mountain Geology.

Veja abaixo um vídeo produzido pela equipe do Museu, em que é possível ver detalhes do fóssil e da amostra de núcleo onde ele foi identificado:

Bem debaixo do nariz

A descoberta aconteceu durante um projeto de sustentabilidade energética do Museu, que tinha como objetivo estudar a viabilidade do uso de energia geotérmica para substituir o gás natural no aquecimento, refrigeração e aquecimento de água do edifício. Mas, quando se trata de um espaço cheio de cientistas e geólogos, perfurar o solo vai muito além da infraestrutura.

Para aproveitar o acesso inédito ao subsolo profundo da cidade, os especialistas do Museu conduziram um projeto de perfuração científica, visando mapear as camadas geológicas locais com precisão. Foi essa perfuração paralela que, atravessando camadas de cascalho e areia antigas, acabou encontrando o leito rochoso do final do Cretáceo e, nele, um fóssil.

Ilustração de um Thescelosaurus durante o último período Cretáceo, há quase 67 milhões de anos. Esses animais bípedes, com cerca de 3 a 3,6 metros de comprimento, vagavam pelos pântanos tropicais, florestas e planícies de inundação onde Denver hoje se encontra — Foto: Andrey Atuchin/Museu de Natureza e Ciência de Denver
Ilustração de um Thescelosaurus durante o último período Cretáceo, há quase 67 milhões de anos. Esses animais bípedes, com cerca de 3 a 3,6 metros de comprimento, vagavam pelos pântanos tropicais, florestas e planícies de inundação onde Denver hoje se encontra — Foto: Andrey Atuchin/Museu de Natureza e Ciência de Denver

“É basicamente como ganhar na loteria e ser atingido por um raio no mesmo dia”, brinca James Hagadorn, curador de geologia do Museu e líder da investigação, em comunicado. “Ninguém poderia prever que este pequeno metro quadrado de terra onde começamos a perfurar conteria um osso de dinossauro embaixo dele”.

A amostra de núcleo — um cilindro de rocha de apenas 6 cm de diâmetro — apresentou o que mais tarde seria identificado como parte de uma vértebra de um réptil herbívoro de médio porte, possivelmente um Thescelosaurus sp. ou um Edmontosaurus sp. Ambos eram relativamente comuns nessa região dos EUA durante os últimos milhões de anos do reinado dos dinossauros.

Análise do fóssil

De acordo com o Patrick O’Connor, diretor de Ciências da Terra e do Espaço do Museu, esta pode ser a descoberta de dinossauro mais incomum da qual já participou. “Não só é excepcionalmente raro encontrar qualquer fóssil como parte de um projeto de perfuração, como a descoberta proporcionou uma oportunidade de colaboração científica excepcional”, destaca ele.

A análise do fóssil foi liderada pelo pesquisador de pós-doutorado Holger Petermann, com apoio de diversos membros do departamento de Ciências da Terra. Levou meses de estudos para confirmar que se tratava mesmo de material biológico fossilizado, e não apenas uma rocha incomum.

Da esquerda para a direita, os autores do relatório, Gussie Maccracken, David Krause e Patrick O'Connor, estudam o fóssil de dinossauro no Museu de Natureza e Ciência de Denve — Foto: Rick Wicker/Museu de Natureza e Ciência de Denver

Da esquerda para a direita, os autores do relatório, Gussie Maccracken, David Krause e Patrick O’Connor, estudam o fóssil de dinossauro no Museu de Natureza e Ciência de Denve — Foto: Rick Wicker/Museu de Natureza e Ciência de Denver

Como a formação rochosa em que o osso foi encontrado representa uma época em que Denver era um verdadeiro paraíso tropical, as camadas geológicas analisadas mostraram uma transição de ambientes. Ali é possível identificar registros de margens de rios a pântanos e lagos, todos ricos em vida vegetal e animal.

Bob Raynolds, um dos principais colaboradores do estudo, afirma ter ficado muito emocionado com a descoberta: “Em meus 35 anos no Museu, nunca tivemos uma oportunidade de estudar as camadas geológicas profundas sob nossos pés com tanta precisão. O fato de este fóssil ter aparecido aqui é simplesmente mágico”.

Região de riqueza fóssil

O solo da região metropolitana de Denver é notoriamente rico em fósseis, lembra a revista Smithsonian. Em 1993, por exemplo, a construção do estádio de beisebol dos Rockies revelou uma costela de dinossauro que deu origem ao mascote do time, Dinger. Em 2017, em Thornton, foi desenterrado o mais completo esqueleto de torossauro já encontrado. E em Highlands Ranch, dois anos depois, ossos de triceratops surgiram durante obras residenciais.

Ainda assim, segundo Hagadorn, encontrar um fóssil dentro de uma amostra de núcleo estreita, em pleno centro urbano, é praticamente inédito. “Até onde eu sei, este é o único osso de dinossauro extraído de um núcleo no mundo que você pode ver em exibição”, aponta.

Período Cretáceo, há cerca de 67 milhões de anos. Entre palmeiras, trepadeiras e pés de gengibre, este ecossistema era habitado por diversos animais de grande porte, incluindo dinossauros herbívoros como o Triceratops ao fundo e carnívoros como o Tiranossauro rex, cuja perna está em primeiro plano — Foto: Gary Stabb, Johnson e Raynolds/Museu de Natureza e Ciência de Denver

Esta descoberta lança nova luz sobre a possibilidade de encontrar fósseis não apenas em escavações abertas, mas também em contextos urbanos e subterrâneos. E a equipe do Museu pretende continuar explorando isso nos próximos anos.

Até novas descobertas serem localizadas, os visitantes podem testemunhar o fragmento recém-identificado em exposição temporária no Museu. Ele foi adicionado à mostra “Descobrindo o Teen Rex”, ao lado de um jovem Tiranossauro rex encontrado por crianças na Dakota do Norte.

(Por Arthur Almeida)