
Um misterioso corpo celeste vindo de fora do Sistema Solar, batizado 3I/ATLAS, pode ser o cometa mais antigo já observado pela humanidade. Ele foi detectado pela primeira vez em 1º de julho deste ano, pelo telescópio ATLAS, no Chile, quando se encontrava a cerca de 670 milhões de km do Sol — uma distância comparável àquela que separa a Terra de Júpiter.
Segundo cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, que o apresentaram durante a Reunião Nacional de Astronomia da Royal Astronomical Society (NAM 2025), que aconteceu entre os dias 7 e 11 de julho, o 3I/ATLAS pode ser até 3 bilhões de anos mais velho que o próprio Sistema Solar. Isso significa que ele tem aproximadamente 7 bilhões de anos.
O cometa é apenas o terceiro objeto interestelar já observado atravessando nosso Sistema Solar. Os anteriores foram o1I/‘Oumuamua, descoberto em 2017, e o 2I/Borisov, em 2019. O prefixo “3I” indica justamente que este é o terceiro “interestelar” identificado, classificação que destaca que sua trajetória não está ligada gravitacionalmente ao Sol e que ele veio de além da nossa vizinhança estelar.
Um visitante de um lugar inexplorado da galáxia
Para os especialistas, o que torna o 3I/ATLAS particularmente fascinante não é apenas sua idade ou origem fora do Sistema Solar, mas o fato de ter vindo de uma região da Via Láctea jamais explorada de forma direta por nossos instrumentos: o chamado “disco espesso” da galáxia. Trata-se de uma estrutura composta por estrelas antigas que orbitam em trajetórias elevadas, acima e abaixo do plano galáctico onde estão localizados o Sol e a maioria das outras estrelas.
Essa origem incomum foi inferida a partir de sua trajetória extremamente inclinada e de sua velocidade elevada. Essas características contrastam com os cometas do Sistema Solar, como o Halley, que nasceram junto com o Sol e orbitam dentro do plano galáctico.
“Os cometas que se formaram com o nosso Sistema Solar têm até 4,5 bilhões de anos, mas os visitantes interestelares podem ser muito mais antigos”, explica Matthew Hopkins, um dos responsáveis pelo projeto de observação de 3I/ATLAS, em comunicado à imprensa. “Nosso método estatístico sugere que este provavelmente é o cometa mais antigo que já vimos”.
“Em vez da quarta-feira tranquila que eu havia planejado, acordei com mensagens do sistema e de colegas indicando ‘3I!!!!!!!!!!’. Foi uma oportunidade fantástica de testar nosso modelo em algo totalmente novo”, destaca o especialista.
Um cometa “rico em gelo” (e já ativo)
Outro fator que torna o 3I/ATLAS excepcional é sua composição e comportamento observável. Como destaca a BBC, o objeto é provavelmente rico em gelo de água, o que indica que ele se formou em torno de uma estrela antiga, possivelmente nas fases iniciais de formação do disco espesso galáctico.
À medida que se aproxima do Sol, esse gelo está começando a sublimar, ou seja, passando diretamente do estado sólido para o gasoso. Isso cria atividade cometária visível, a clássica cauda e a coma brilhante de poeira e vapor.
O Very Large Telescope (VLT), também localizado no Chile, conseguiu registrar imagens do 3I/ATLAS apenas dois dias após sua descoberta. Em um vídeo em time-lapse [veja acima], o cometa é visto movendo-se sutilmente pelo céu em cerca de 13 minutos, capturado pelo instrumento FORS2 do observatório. Essas observações iniciais já indicam que o 3I pode ser maior e mais ativo que seus predecessores interestelares.
Michele Bannister, pesquisadora que também assina o estudo, afirma que os gases emitidos pelo cometa conforme ele se aquece serão cruciais para testar as previsões do modelo de Hopkins. “Estamos em um momento emocionante, pois o 3I já está mostrando sinais de atividade. Alguns dos maiores telescópios do mundo já estão observando esse novo objeto, e um deles pode ser capaz de investigá-lo mais a fundo!”.
Implicações para a astronomia
3I/ATLAS não apenas valida modelos teóricos sobre objetos interestelares, mas também aumenta as expectativas para futuras descobertas, especialmente com o início das operações do Observatório Vera Rubin, no Chile. Este telescópio revolucionário começará a operar no final de 2025, com a missão de mapear o céu noturno do Hemisfério Sul com um grau de sensibilidade sem precedentes.
Antes da chegada do 3I, os cientistas estimavam que o Rubin poderia detectar entre cinco e 50 objetos interestelares durante seus anos de operação. Agora, esse número pode ser ainda maior. “3I sugere que as perspectivas para Rubin podem ser mais otimistas. Podemos encontrar cerca de 50 objetos, alguns dos quais semelhantes em tamanho ao 3I”, indica Rosemary Dorsey, outra colaboradora da iniciativa.
Mais do que só aumentar o potencial de descobertas futuras, cometas como o 3I/ATLAS podem também fornecer informações valiosas sobre a formação de estrelas e planetas em diferentes regiões da galáxia. Esses objetos carregam assinaturas químicas do ambiente onde se formaram — um registro congelado do passado cósmico.
Embora atualmente o 3I/ATLAS só possa ser visto com telescópios muito potentes, os astrônomos preveem que ele deverá se tornar visível para telescópios amadores de médio porte no final de 2025 e início de 2026. Será uma rara oportunidade para o público testemunhar um visitante milenar de outro canto da galáxia atravessando o céu noturno.
(Por Arthur Almeida)

