
Durante a investigação de uma necrópole na antiga cidade de Pompeia, destruída pela explosão do Monte Vesúvio em 79 d.C., pesquisadores identificaram o que parece ser o túmulo de uma seguidora de Ceres, a deusa romana da fertilidade agrícola. Detalhes da mulher enterrada sugerem que ela ocupava uma posição de elevação social e política naquela sociedade – talvez sendo até uma sacerdotisa.
A misteriosa figura feminina foi enterrada junto a um homem no complexo de Porta Sarno. Em uma estátua identificada dentro de sua câmara funerária, eles foram representados como um casal de jovens noivos. Esse tipo de peça de arte não era tão comum entre a população em geral, ficando reservado aos indivíduos mais ricos e influentes.
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O estudo sobre o local, bem como os itens escavados por ali, ficou a cargo de uma equipe formada por arqueólogos da Espanha e da Itália. Suas observações renderam a produção e publicação de um artigo científico na revista especializada Heritage, disponibilizado na última sexta-feira (16).
Sacerdotisa de Pompeia
A estátua feminina foi desenhada em tamanho real, coberta por um véu, que, segundo os pesquisadores, adere à imagem de uma mulher reservada, recatada e honesta. Mais importante, porém, ela também parece estar segurando um aspersório e uma espécie de ramo de louro.
Tradicionalmente, esses itens eram usados por representante religiosos para purificar e abençoar os espaços. Por meio da queima de incenso ou ervas aromáticas, eles dispersavam fumaça durante a condução das cerimônias ritualísticas.
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Outro elemento curioso acerca da estátua diz respeito à sua retratação com um colar de amuleto em formato de lua crescente, o qual também é conhecido como uma “lúnula”. Segundo os investigadores, tais simbologias eram usadas por jovens solteiras e, dificilmente, seriam empregadas no dia de seus casamentos.
Por isso, a presença da lúnula na estátua pode, na verdade, indicar uma conexão especial entre a mulher e Ceres (ou Deméter, em sua versão grega). A divindade era fortemente associada às fases da Lua devido à sua relevância para a agricultura e a colheita, segundo informa o site IFLScience.
Implicações do achado
“A escultura da mulher é um dos raros exemplos de uma sacerdotisa sendo retratada com os objetos característicos de sua posição religiosa e o único conhecido até agora em Pompeia”, escrevem os pesquisadores no artigo. “Ser sacerdotisa era o mais alto nível social ao qual uma mulher podia aspirar”.
De acordo com os registros históricos, as sacerdotisas tinham um papel importante na esfera pública. Elas ocupavam uma posição de poder distante das outras mulheres, que, na maioria das vezes, eram excluídas das tomadas de decisão, aproximando-se muito mais dos homens.
Sendo esse o caso, a descoberta acrescenta significativamente à compreensão da realidade social, religiosa e política de Pompeia antes de seu fim apocalíptico. É a primeira evidência de que as mulheres da elite local podiam servir como figuras centrais da sociedade.
Como nenhuma inscrição foi encontrada acompanhando a escultura do casal, ainda não foi possível confirmar a identidade da mulher, muito menos de seu marido. Apesar disso, a equipe planeja continuar as análises dessa e de outras câmaras do complexo de Porta Sarno na esperança de descobrir novas informações.
(Por Arthur Almeida)

